3 de abril de 2013

Capelas e Carros


Capelas bordadas, exposição montada, vernissage realizada, partilha feita. Ufa! Agora posso brincar de fazer outra coisa...
Não é que essa foto me tomou de assalto? Toda a poesia que havia pensado para nossas capelas tão graciosas virou pó diante da realidade do carro estacionado. Não que nossas capelas não merecessem um olhar mais carinhoso ou que os carros estivessem fazendo algo errado. Não. Nada disso. Eu é que não consigo processar junto a poesia que eu queria para as capelas e a necessidade de estacionar o carro para apreciar a vitrine. O Rosa dizia que "quem mói no ásp'ro não fantaseia". Mais ou menos assim. Achei tanta graça nesse duelo entre a fantasia e a realidade que não pude deixar de comentar...

“São belas.
Elas, as capelas.
E somos nós a bordá-las, devotos de toda fé.
Quando estamos em silêncio, no lento picar das agulhas, quase podemos medir a intensidade do sinal com que buscamos compreender a nós próprios e aos outros. Divagação. Circunlóquio. Quase uma oração.
Ponto após ponto, a intenção que nos anima ganha contornos coloridos e a linha aborda capelas outrora pedra e pó. Transferidas para o linho – mortalha, mas também envoltório para o pão – nossas capelas perfazem o caminho de nossas memórias íntimas.”


Não é mesmo verdade que qualquer firula poética se dissolve frente a realidade do dia a dia? Bordamos capelas, mas também estacionamos nossos carros.

8 de novembro de 2012

Xale de Sereia


Tricô
Anzóis




Não sei quando nem porque as Sirenes perderam suas asas e ganharam cauda de peixe. 
Sei que ainda cantam - e só Kafka parece preferir o seu silêncio - e sentem frio, nuas que estão numa ilha do Mediterrâneo. 
Tricotei para elas este xale quentinho. 
A mesma fome que inspira seu canto faz trabalhar minhas mãos.

12 de outubro de 2012

Circunlóquio


Chove neste feriado sem fé e sem meninos. Na parede, terminou a espera de um São Francisco que aguardava por um prego há mais de uma semana. Conta-se que, cansado de ouvidos humanos, o homem resolveu pregar aos animais. Não pelas mesmas razões, enterrei minhas mãos na terra úmida do vaso-útero recém comprado para uma muda de Jacarandá que aguardava há tempo meus cuidados. Mãos enraizadas e pés chapados no chão, deixei a chuva encharcar corpo e espírito enquanto transplantava o Ipê Roxo também relegado, na esperança de confundir suas flores com as minhas.
Pé no chão e idéia fixa, o salto agulha da filha lembrou-me aquele outro com o qual Fassbinder calçou sua Maria Braun antes dela explodir a casa. Talvez Clitemnestra usasse tacões quando matou Agamémnon. Sua irmã Helena devia andar de sandálias, pois muito havia o que percorrer entre Micenas e Tróia . Penélope, essa, andava descalça e ocupava diuturnamente suas mãos para não afogar-se num solilóquio interminável. Protelada por Hamlet, sucumbiu Ofélia, que não sabia tecer ou bordar. Tivesse ela plantado um Jacarandá no túmulo do pai, as águas não a teriam levado. Tivesse Maria Braun assado um bolo, como eu, sua cozinha não teria explodido.

5 de outubro de 2012

Santa Clara


Bimba Landmann é o nome da ilustradora cujo desenho copiei.
Percorri com minhas linhas de algodão as linhas mais puras do trabalho dela, invejosa de sua cor e de sua intenção.
Valeu-me o exercício, mas ainda não sei o que fazer com as agulhas. Como um pêndulo, elas têm oscilado em minhas mãos ora para construir, ora para destruir. Ao bordado assim "mimoso" gosto de contrabalancear a ruptura do objeto. É chegado então o momento de atirar as agulhas ao léu e colher o significado que elas compõem.

4 de outubro de 2012

Feira PARTE


Trabalhinho que mandei para o Projeto "Hic et Nunc" na Feira de Arte Contemporânea "PARTE"
17 a 21 de outubro de 2012 no Paço das Artes - USP

Maiores informações, aqui.


18 de setembro de 2012

Hospitalar II


Toalha-fralda
Café
Arame
Seringas
Bordado

Obrigada ao Juan que me emprestou a frase


Há muito não tomo mais Viscum Album. 
Ficaram as seringas e a sugestão desse nome entre branco e visguento.

14 de setembro de 2012

Hospitalar I


Atadura  /  Arame  /  Bordado  /  Costura  /  Dado  /  Dor  /  Estrutura

Atadura retalhada refeita repaginada
Arame de alumínio esqueleto moldável
Bordado de garatujas
Costura essencial
Dado viciado
Dor imaginada
Estrutura mambembe



31 de agosto de 2012

San Miniato al Monte


É necessário bibliografia para compreender as belezas dessa Basílica. Contudo, do adro dessa igreja contemplar o pôr-do-sol sobre a cidade magnífica de Lorenzo exige apenas disposição de deixar os minutos correrem esquecidos do tempo aprisionado dos relógios.

26 de agosto de 2012

Dos materiais


A lã só se deixou modelar com muito trabalho.

A seda exigiu perícia e paciência.

O arame farpado requereu de mim somente a força bruta.

A ideia certamente não era minha. Liberta do cérebro primeiro que a pensou, ocupou-me por algumas horas e foi-se embora colher a habilidade de outras mãos.

Do ponto de vista gramatical, não sei se fui o sujeito ou o objeto da ação. Restou a coisa-objeto que chamei de Ninho.



11 de agosto de 2012

Capela com bolhas de sabão


Compósita de todas as maneiras, nada nesta capela é real. Não quis retratar realidade alguma, salvo a delicadeza das bolhas de sabão com as quais meu sobrinho ainda brinca no quintal. Acho que o bordado não se presta a retratar realidades de maneira convincente. Parece-me que as linhas brilhantes e coloridas alcançam apenas as notas sentimentais, dizendo mais do ânimo de quem borda do que qualquer outra coisa. Mostra-me o que bordas, que te direi quem és....

9 de agosto de 2012

Pampulha reloaded


Havia ainda muito espaço na página e minha mensagem não estava completa. Quando publiquei, apressada, a foto, fingi não perceber um certo desconforto de coisa não dita. É impossível mentir para si próprio. Então, mea culpa, eis minha capela repaginada.

4 de agosto de 2012

Catedral Metropolitana


Fecho os olhos e visualizo a caminhada noturna pela Avenida República do Chile. Sob o viaduto da Avenida República do Paraguai menos mendigos se encolhiam em seus andrajos. Não fosse o penetrante cheiro de urina, diria que o entorno estava quase limpo.
A chuva fina que caía tornava ainda mais sobrenatural a feérica iluminação da Catedral de São Sebastião. Inebriada de tanta luz, imaginei mil cruzes bruxuleando em derredor. Soava, incessante em minha memória: "...São Sebastião crivado nublai minha visão na noite da grande fogueira desvairada..."
Sim, o Rio de Janeiro continua lindo.
E menos pobre.
Amém.

25 de julho de 2012

Capela e húmus de minhoca


E não é que esse adubo poderoso continua a alimentar a imaginação de pessoas que não atendem pelo nome de Oscar Niemeyer ou Cândido Portinari? Ou talvez o elemento sobrenatural paire acima de todos nós convidando para o trabalho das mãos...

9 de julho de 2012

Boi


É um boi, mas não é bumbá. Não posso reivindicar para mim uma tradição que não é minha. 
O princípio que norteou essa "colagem" de tecidos foi a geometria e a disparidade das cores, não o folclore.
Esse trabalhinho nasceu de uma apresentação que a Mara Doratiotto fez sobre Tapeçaria de Recorte. É bem verdade que não obedeci muito à técnica, mas isso não importa muito. Importa que meu boizinho modesto ganhou uma cara nesse mundo.

5 de julho de 2012

Capela


Esta capela bordei para um projeto coletivo chamado "Andar com Fé". Quando reunirmos um número considerável de capelas, elas serão todas unidas entre si ou afixadas em outro suporte. Também estou curiosa para ver o efeito final! Postarei aqui quando ficar pronto.

Fotografia mais que amadora essa minha, com o sol entrando pela janela e projetando a sombra das grades sobre a mesa. Pensando na imagem, adoro compor a foto com sombra. O objeto retratado ganha outro enquadramento e o contraste oriundo do combate entre a luz e a sombra fica bem evidente. Que diria um fotógrafo de verdade?