28 de outubro de 2010

Cascata verde



Tricô de dedo: eu nem sabia que existia. Esse cachecol em cascata é tão fácil de fazer que dá até dó: basta passar o fio pelos dedos da mão e ir derrubando o ponto um a um. Muito efeito, pouco trabalho. Dá para aproveitar o tempo com outras coisas. Por exemplo, assistir ao filme In Bruges, em que o diretor valoriza de tal maneira o cenário dessa cidade medieval belga que o eleva à condição de principal personagem do filme. Ou escutar ao álbum Show, da Ná Ozzetti,  em que ela regrava clássicos de nosso cancioneiro de maneira primorosa. Quem gosta de afinação e instrumental caprichado não pode perder.

25 de outubro de 2010

Tissume

Há alguns dias tive o prazer de conhecer Mercedes Montero e Maria, ambas expositoras de seus trabalhos têxteis aqui em São Paulo. O projeto Tissume, sediado em Pirenópolis - GO, resgatou a atividade em tear manual nessa cidade e inovou os produtos com o design criado pela Mercedes, de maneira que hoje há um núcleo maior de pessoas na comunidade gerando renda através do tear. Ela tece com tecido, fibras naturais, arame, algodão fiado à mão, fios industriais e o que mais sua criatividade inventar.
Bolsas, xales, luminárias, almofadas, blusas, vestidos, biombos possuem acabamento primoroso e estão longe de serem convencionais.

13 de outubro de 2010

Tapeçaria artística - links

Essa pesquisa é fruto de incansáveis horas frente ao computador perseguindo esse assunto de que gosto tanto. É importante que todos tenham em mente que cada site abaixo relacionado fornece sua própria lista de links para serem visitados, ampliando consideravelmente o que há para ser visto, especialmente páginas de artistas contemporâneos que eu adoraria conhecer... Convido outras pessoas a compartilharem seus conhecimentos sobre tapeçaria para que essa lista cresça ainda mais!

Brasil
Pouso do Tapeceiro - site da pousada onde o artista têxtil Henrique Schucman vive e trabalha.
Casa Andrade Muricy - entidade ligada à Secretaria da Cultura de Curitiba que promove exposições de arte e onde é possível encontrar informação sobre artistas têxteis poloneses.
Elke Otte Hülse - pesquisadora sobre artes visuais ligada à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Dissertação de mestrado: As Tramas dos Tapeceiros Narradores (parte I);  As Tramas dos Tapeceiros Narradores (parte II); O Mestre Tapeceiro e os "Cadernos de Aluno", sobre a atividade docente de Ernesto Aroztegui; Tapeceiros na América Latina, artigo sobre Ernesto Aroztegui (Uruguai), Máximo Laura (Peru) e Jacques Larochette (Argentina).

Portugal
Manufactura de Tapeçarias de Portalegre - site de uma oficina que se propõe a confeccionar tapeçarias (com rigorosa técnica gobelin) sob encomenda para artistas ou colecionadores.
Portugal e as Tapeçarias Flamengas - arquivo acadêmico da Universidade do Porto em que a pesquisadora Roza Huylebrouck traça o inventário das tapeçarias flamengas em solo português.

Peru
MNAAHP - site do museu com riquíssimo acervo (não só têxtil) da produção de numerosas culturas pré-colombianas.
Museo Larco - site de museu.
Máximo Laura - artista têxtil contemporâneo.

Suécia
La Colección Paracas - site trilíngue do museu da cidade de Gotemburgo com importante acervo desta cultura.

Bélgica
Domaine de la Lice - site de uma associação de artistas têxteis contemporâneos militantes e suas propostas para uma tapeçaria com linguagem própria.
De Wit -  site da manufatura real herdeira da tradição flamenga de tapeçaria.


França
Le Portail de la Tapisserie Contemporaine - site de artistas têxteis contemporâneos com fórum para debates e glossário. Pena que haja informação restrita apenas para membros...
Atelier Enila Tityad - site da artista com farta documentação de seus trabalhos e seu processo criativo. Ela é generosa, fornece fotos, fórum, bibliografia e explicações técnicas.

Polônia
Centralne Muzeum Wlókiennictwa - site do museu da cidade de Lódz, responsável pela realização das famosas trienais de tapeçaria pelas quais todo artista têxtil já passou ou deseja passar.

Estados Unidos
The Textile Museum - site do museu em Washington.
American Tapestry Alliance - site de uma associação norte-americana de artistas têxteis contemporâneos.
Susan Klebanooff - site da artista com fotos de seus trabalhos.

Alemanha
Gunta Stölzl - site com informações preciosas sobre essa pioneira da arte moderna têxtil na Bauhaus.
Anni Albers - site da fundação dessa dupla de artistas (Josef e Anni Albers) mestres também oriundos da Bauhaus.

9 de outubro de 2010

Gorros para um inverno acalentado


Ei-los que vão saindo, para esquentar as idéias nesse inverno que se aproxima... no hemisfério norte! Nada como um frio arretado para acelerar as sinapses e povoar nossa memória de lembranças fecundas. Ai que saudade... Paisagens novas, sabores inusitados, pessoas e odores. Tudo novo para ver e rever. À bientôt!
Em tempo, a modelo fez greve, então tive de ser criativa...

4 de outubro de 2010

Sonho de armarinho - ou - O que o Drummond tem a ver com isso?


Mal conheci e lá fui eu visitar o armarinho sonhado pela Angélica. Um encanto! Menos balcão e mais sofá, do jeito que a gente gosta. Sortimento de materiais, aulas para todos os gostos, lugar para passar a tarde ocupando as mãos. Algumas vezes ocupa-se mais a língua, mas faz parte do ser mulher neste mundo. Assim que deixei minha sacola de panos para exposição, senti-me órfã. Bom, pensei com meus botões, os meninos precisam ganhar o mundo... Melhor assim, fabrico outros. Daí ouvi o poema O Elefante do Drummond ecoando nas minhas palavras e resolvi dar a vênia devida. Que fazer se ele disse melhor? Aí vai o poema, mas eu não quero encher linguiça (Ai que não me acostumo com a nova ortografia: que fizeram com o trema?)

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.
Mas há também as presas,
dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante
pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.
É todo graça, embora
as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há na cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.

Mas faminto de seres
e situações patéticas
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.
E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

1 de outubro de 2010

Quadrados afegãos


Não fiz a pesquisa. Alguém sabe me dizer o que há de afegão nestes quadrados coloridos de crochê? Como diria o Rosa, o Afeganistão está em toda parte. E arre que eu estou literária. Culpa da chuva que cai lá fora e embaça a fotografia que eu queria luminosa. Não deu. Não dá. Não é quando a gente quer que as coisas acontecem. Elas têm andamento próprio. Andei perseguindo as palavras a semana inteira e elas fugiam de mim, escorregosas. Eis que agora, nesse dia cinzento e eu com os olhos inchados elas brotam de supetão. Tem explicação?
As mãos poderiam estar crochetando para terminar esta colcha incompleta, mas os dedos rebelados insistem em teclar as imagens cerebrais. Então, eu obedeço e calo toda pessoa que em mim é previsível para experimentar esta outra, mais solta e tagarela. O crochê introspectivo fica para depois: nada de coser para dentro hoje.