25 de março de 2011

Armarinho Lil Weasel

Mercerie Lil Weasel

Uma das lembranças agradáveis que guardo da viagem foi a meia-hora que passei visitando este armarinho encantador! Alguém elogiou (pela net) a variedade e a qualidade dos produtos comercializados e a gentileza de sua proprietária, Carine. Para mim foi o quanto bastou para procurá-lo. E não foi fácil, pois ele fica "escondido" numa galeria longe do olhar dos que passam na rua.
Anne
Quando lá estive, fui muitíssimo bem atendida pela simpática Anne, que se esforçou por compreender o que eu dizia num francês lamentável! Ela mostrou-me pacientemente todo um estoque de agulhas de tricô nos mais variados materiais possíveis até que eu me decidisse por um, maravilhoso, daqueles que dá para deixar de herança... Com ele tricotei esta golinha com fecho em crochê.
Visitas virtuais podem ser feitas aqui, mas lá, ao vivo, é muito melhor!

21 de março de 2011

Jean Lurçat




Jean Lurçat foi o artista francês responsável pela renovação que a arte da tapeçaria sofreria na França à partir da década de 40. Os grandes ateliês - notadamente os de Aubusson - viviam de reproduzir e perpetuar uma figuração de gosto renascentista que fez a glória da tapeçaria nos séculos XV e XVI. Mas lá se vão muitos séculos: a função da arte, a sensibilidade do artista, o gosto do público, o diálogo com o seu tempo mudaram desde então. Para quem gosta do suporte têxtil, faltava algo novo.
Lurçat não foi o primeiro. Outros artistas antes dele experimentavam mandar tecer seus trabalhos, mas nenhuma dessas obras era pensada em termos de trama e urdidura, nenhuma delas levava em conta a especificidade da técnica têxtil. Tradições diferentes da francesa já experimentavam no têxtil novos caminhos, vide as propostas moderníssimas da Bauhaus na década de 20.
Quando Lurçat se rendeu à arte têxtil, ele abandonou uma sólida e reputada carreira de pintor. Não foi uma mera troca de suporte, saem os pincéis, entram liços e navetes. A arte dele mudou. Há um Lurçat pintor e outro Lurçat tapeceiro. Saiu de cena o pintor solitário e o que se seguiu foi um homem engajado em grandes projetos coletivos que dialogavam com o seu tempo sem desmerecer a tradição mais antiga donde a tapeçaria se originou. Essa tradição com a qual ele dialogava não era Renascentista, era Medieval.
A grande contribuição que Lurçat trouxe foi a simplificação da paleta de cores usada pelos tecelões e o uso do cartão numerado nos projetos. Vamos entender isso. Um cartão é um projeto gráfico em tamanho natural  daquilo que o artista quer reproduzir na tapeçaria. É o "mapa" que deve ser seguido meticulosamente pelos artesãos que operam o tear. É o "risco do bordado". A tapeçaria costuma ser obra monumental. Imagine-se uma peça de 4,0 x 12,0 m. São 48 metros de superfície tecida ponto por ponto, ou grão por grão, ou pixel por pixel. São necessários vários artesãos trabalhando simultaneamente por muitos meses para dar término à obra. Um cartão convencional é uma pintura que deve ser "interpretada", "traduzida" pelos artesãos por exemplo no tocante ao uso da cor, já que a lã não possui o espectro ilimitado de cores que as tintas possuem. Lurçat traçava as linhas dos contornos e atribuía números aos variados campos de cor de seu desenho. Cada número correspondia a uma cor de lã existente e disponível para uso dos tecelões. Ao fazer isso, Lurçat facilitava o trabalho dos artesãos que eram capazes de reproduzir fielmente o desenho nas proporções e cores concebidas por ele.
A decisão de abandonar os pincéis veio em 1939 quando Jean Lurçat conheceu a Tapeçaria do Apocalipse, em Angers. Para dialogar com essa tapeçaria medieval, nosso artista concebeu a sua O Canto do Mundo, em que apresenta a sua versão do apocalipse em tempos modernos. Essa série de dez tapeçarias está exposta na mesma cidade num prédio construído para ser hospital no século XII. O Hôpital Saint-Jean abriga hoje o Museu Jean Lurçat e a Tapeçaria Contemporânea, onde outros artistas têxteis podem ser visitados.

19 de março de 2011

Castelo d'Angers

O primeiro castelo medieval a gente nunca esquece! Quase não pude conter minha alegria ao ver suas muralhas cercadas pelo fosso-jardim. E imaginar que todas as suas torres possuíam telhados cônicos, mandados retirar há muitos séculos por serem alvo fácil dos incêndios provocados pelas balas de canhão. Mais velha que os castelos é a guerra entre os homens...
As dezessete torres e a muralha da fortificação abrigam em seu interior belos jardins,  palácio, capela e outras edificações além da galeria que abriga a Tapeçaria do Apocalipse.


11 de março de 2011

Apocalypse d'Angers

Angers jan 2011
Parte do pavilhão escuro para exibição
Sob o impacto da grandeza dessa tapeçaria que ilustra o Apocalipse de São João eu só posso exibir minha ignorância. Mais do que obra de um gênio (Hennequin de Bruges concebeu o cartão que foi tecido em Paris pela equipe de Nicolas Bataille)  quantas pessoas empregaram seu talento na confecção dessa tapeçaria de 130 metros? Que pessoas eram essas que construíam imagens com lãs e linhas; que pessoas eram essas para quem os anjos tocavam suas trombetas? As imagens são tão fortes que elas são como que o espírito das palavras da lei. Se há um homem versado no imaginário bíblico, esse homem só pode ser medieval. A nós fica reservado respeito estético.
Direito e avesso

600 anos de existência esmaeceram o colorido intenso da tapeçaria, mas seu avesso guarda a vivacidade das cores. É um show de vermelhos e azuis e verdes e amarelos e ocres trabalhados com lã muito fina, tingida com pigmentos naturais. A técnica empregada foi tão apurada que direito e avesso são idênticos, sem fios pendurados ou nós. Tal precisão permitiu que a tapeçaria fosse fotografada em seu avesso e os negativos reconduzidos à posição original para impressão em livro (L'Apocalypse de Saint Jean Illustrée par La Tapisserie D'Angers - Diane de Selliers Éditeur). Nele podemos verificar lado a lado o desgaste sofrido pelo lado direito da tapeçaria.
Cerca de 30 metros se perderam, mas o que restou não é pouco. O conjunto, mandado tecer em 1373, foi encomenda do duque Louis d'Anjou. É quase inacreditável que possamos ainda hoje admirar esse exemplar têxtil do século XIV.



Detalhe de maestria técnica
O Anjo toca sua trombeta anunciando desgraças sem fim




















A Besta do Apocalipse


O museu que guarda a tapeçaria foi construído (em 1954) especialmente para abrigá-la dentro do castelo de Angers, uma das principais atrações do patrimônio francês.

Balanço de Férias

É bem verdade que as malas estão desfeitas há muito, mas o tempo de organizar as lembranças andou escasso. Paciência, que se há de fazer.
O filho voltou de Vancouver com inglês afiado, poucas fotos e muitos games para consumir horas de sua preciosa juventude. Graças a um inverno ameno, os agasalhos tricotados mal saíram da mala. Quem sabe no Pólo Norte eles tenham alguma utilidade...
Do que vi com meus próprios olhos pretendo falar nas próximas postagens. Um pouquinho por vez. No "mano a mano" com Atlas sempre saio perdendo. A carne é fraca e a memória também.