28 de abril de 2011

Groeningemuseum


Como hoje é meu aniversário, resolvi atualizar a foto de meu perfil, já que novos cabelos brancos se somaram aos que eu já tinha... Chove e faz frio em São Paulo, assim como chovia pouco antes de eu tirar essa foto em Bruges, em janeiro de 2011. O fato de tê-la visitado no inverno, me poupou de ter de dividí-la com os numerosos turistas que a visitam não sem razão. Assim, voltei de lá com a ilusão de ter uma cidade medieval só para mim!

Não dá para ver na foto, mas a sacola que tenho no braço veio do museu que mais fortemente me impressionou dentre os que conheci, o Museu Groeninge. Trata-se de um pequeno museu recheado de obras-primas da pintura Flamenga. Ambiente austero, nada de pessoas passeando pelos corredores como se museu fosse shopping center, proibição para fotos e filmagens (razão pela qual não tenho uma só imagem para mostrar). O foco do museu são as obras e as pessoas passam longos minutos frente aos quadros sem se importarem umas com as outras, já que todos reverenciam respeitosamente o mesmo objeto. Eu vi troca de informação entre os visitantes e não aquela impaciência nervosa de gente que se contenta em ler a legenda sumária do quadro. Nunca senti tanta vergonha pela minha ignorância como ali e considero mesmo que um museu sério é aquele que educa e estimula o estudo.
Tive a sorte de visitar o museu enquanto transcorria a exposição De Van Eyck a Dürer com obras emprestadas por numerosos museus europeus. O cuidado na conservação das obras é evidente, pois nunca vi cores tão luminosas em óleos de mais de 500 anos.

Fica aqui registrada minha indignação quanto ao Museu Rodin (Paris) que deixa um valioso Van Gogh exposto ao sol dessa maneira indecente só porque seu acervo é composto por esculturas de outro artista igualmente famoso. O quadro está tão desbotado e ressecado como aqueles pôsteres de restaurante de beira de estrada. Esta versão do Retrato de Pai Tanguy deveria ser dada como perdida e o museu que a abriga deveria ser punido por isso.

24 de abril de 2011

Benigna e Wagner

Levei o pano da Benigna e do Wagner para passear neste feriado de Páscoa. Foi emocionante vê-lo ser examinado por pessoas que ainda não sabem que o bordado pode ser criativo. D. Áurea (que borda ponto cruz divinamente) disse, encantada: "mas por aqui não temos disso ainda não!" Foi muito legal explicar para ela que o Patchwork era uma tradição norte-americana de costurar retalhos e que o Quilting consistia nas costuras que uniam as três camadas do "sanduíche" (forro, manta e top). Ela me olhou com um ar meio incrédulo e disse: "então não precisa seguir receita não?" Não nesse tipo de trabalho...
Benigna Rodrigues e Wagner Vivan são os artistas autores desse pano. Devagar as coisas que aprendo com eles  irão aparecer no blog. O tempo da colheita ainda não chegou, estamos na semeadura!

16 de abril de 2011

Professores e portas

Pensei estas coisas enquanto tecia estes dois cachecóis xadrezes (a cabeça africana foi souvenir da exposição ÁFRICA, que ocorreu no CCBB do Rio de Janeiro em 2003).
Uma vez, uma faxineira que trabalhava em casa me disse com um vigor inesquecível: "A vida é dura para quem é mole". Era tudo quanto precisava ouvir. Sou-lhe grata até hoje pela franqueza do pontapé duradouro, que lateja na memória toda vez que estou desanimada e lamurienta.
Lembrei da Bete (esse era seu nome), porque essa semana ouvi da Benigna outra coisa que não vai mais me sair da memória: ela disse que o bordado é como uma tatuagem que se incorpora à pessoa que somos para sempre.
Que delícia ouvir isso! Eu que não sou muito de flertar com as coisas, aprecio as relações duradouras, transformadoras, simbióticas. Ela disse também que não precisamos de uma montanha de paninhos bordados, precisamos daquele bordado significativo, que contém uma história, no qual depositamos algo de nós próprios, daquele que gestamos como um filho. É essa diferença que existe entre panos que são adorno e panos que são arte. A proposta deles é totalmente diferente. As revistas estão cheias de riscos e gráficos e moldes e PAP que são muito úteis, mas alguém que quisesse levar para um museu o produto desse trabalho, por mais belo e bem executado que fosse, estaria equivocado.
Sou grata à Benigna (como o sou à Bete, ao Henrique , à Sandra, à Tiyoko, ao Wagner, à Sueli, à Evelyn, à Mônica, à Bel, à Sávia, à Bia) por me mostrar a direção da porta que pretendo abrir.